Faustino Francisco Barros Neto – Chefe do Departamento de Pesquisas.

Meu nome é Faustino Francisco Barros Neto e há trinta e oito anos faço parte de uma história chamada Atlântida Cinematográfica. Um sonho de adolescente em Parnaíba, no Piauí, realizado aos vinte anos no Rio de Janeiro.

O cinema desde a minha infância, era a janela por onde podia ver o mundo e foi neste enlevo, que conheci Paris em “Cinderela em Paris”, Roma em “Candelabro Italiano” e o Rio de Janeiro, então capital federal, pela chancela da Atlântida e sua trupe de notáveis como: Oscarito, Grande Otelo, Eliana, Cyll Farney e tantos outros.

Numa época de difícil comunicação, em cada sessão de cinema, além do filme como atração principal, os traillers como sugestão por vir, a mágica só se manifestava nos sete minutos dos cines jornais da Atlântida, onde os meus olhos saltitavam ao ver em movimento o Estádio do Maracanã em jogos de Fla X Flu, ou do Vascão, meu time do coração, com sua torcida em festa.

A Lagoa Rodrigo de Freitas com seu espelho d’ água era outra atração à parte nos torneios de remo. Os concursos de Miss Guanabara, Miss Brasil e a elegância do Jockey Club em tardes de “Sweepstake” ou na “Nuit des Long Champions”, me deixavam fascinado.

Já no Rio, foi através de uma agência de empregos que cheguei à Companhia Brasileira de Administração e Serviços (firma que administrava toda a parte trabalhista, há época) do Grupo Severiano Ribeiro.

Meu primeiro contato com o Sr.Luiz Severiano Ribeiro Jr., presidente do Grupo, deu-se através de uma festa de casamento (da filha do Sr. Abel, funcionário antigo e de prestígio) quando ali compareci representando a diretoria das empresas.

Dias depois fui chamado por sua secretária para comparecer ao seu gabinete. Como ele só recebia seus diretores, fiquei temeroso por não saber do que se tratava.

Quando entrei fui recebido por ele, de cabeça baixa e em tom forte falou-me que havia me escolhido para executar uma tarefa sigilosa.

Se vazasse qualquer informação, estaria no olho da rua.

Foi aí que conheci mais de perto o homem de personalidade forte e destemido. O segredo da tarefa guardo-o até hoje.

Fundada em 1941, pelos irmãos Fenelon, a Atlântida Cinematográfica, só atingiu os seus objetivos com a entrada do mega empresário Luiz Severiano Ribeiro Jr., um visionário, de formação britânica, dinâmico, audacioso para sua época e até hoje o maior empreendedor do cinema brasileiro.

Pertencente a família de cearenses, os “Severiano Ribeiro” já tinham destaque no mercado exibidor e distribuidor. Sua maior importância, deveu-se ao fato de ter sido um negociador nato, consolidando seus investimentos com grupos estrangeiros de forma a exercer o domínio no mercado exibidor.

Sempre pontual nos seus compromissos, jamais se associou a grupos em suas produções e nunca precisou de subvenção do governo.

Quando fui convocado para trabalhar no Departamento de Jornais, graças a sua Diretora Heloisa Severiano Ribeiro, filha caçula, implementamos mudanças radicais nos cines jornais, desde seu linguajar atemporal, até sua elaboração em formato de revista, dando-lhes uma dinâmica bastante moderna.

O jornal passou a ter personalidade própria, com abertura que justificava o seu conteúdo e no final mensagem associativa particular.

Utilizamos crônicas, pensamentos, textos literários, como roteiro para os cines jornais.

Ousamos colocar a poesia e os intelectuais da época estavam sempre presentes tais como: Carlos Drumond de Andrade, Tristão de Athayde, Artur da Távola, dentre tantos outros.

Uma missão cumprida com o alcance de idéias positivas, de muito trabalho e de muita dedicação.

A dignidade dos heróis será sempre um espelho para as novas gerações e que símbolos como o chafariz da Atlântida permaneçam jorrando no imaginário de muitas pessoas.

Agora adulto, sinto saudade de uma época, onde os valores eram reconhecidos e respeitados.

Certa vez, li numa fábrica desativada, que um grande homem está além do reconhecimento da história, ele está sempre diante da história, da sua própria história.