A importância dos filmes da Atlântida
Os filmes da Atlântida representam a primeira experiência brasileira de longa duração na produção cinematográfica voltada para o mercado com um esquema industrial auto-sustentável.O início da década de 50 marca a volta de Vargas ao Poder, eleito, agora, pelo voto direto. Tentando despedir-se de sua vocação agrária, o Brasil começa a percorrer os caminhos da industrialização. Observa-se o crescimento das grandes cidades brasileiras em função desse estímulo à industrialização, provocado, também, pelo êxodo rural.Tal contexto possibilita a abertura do caminho para os filmes da Atlântida, principalmente, para as chanchadas, o gênero mais popular feito no cinema brasileiro até hoje.
Para o espectador, o fato de encontrar na tela tipos populares como o herói malandro e desocupado, os mulherengos e preguiçosos, as empregadas domésticas e as donas de pensão, os imigrantes nordestinos, provoca grande receptividade.
Mesmo pretendendo, em certos aspectos, imitar o modelo hollywoodiano, as chanchadas transpiram uma inconfundível brasilidade ao colocar em relevo os problemas cotidianos da época.Presentes na linguagem da chanchada, elementos do circo, do carnaval, do rádio e do teatro. Atores e atrizes de grande popularidade no rádio e no teatro ficam imortalizados através das chanchadas. Ficam registradas, também, consagradas músicas carnavalescas e os sucessos do rádio.Comédias apressadas e sem conteúdo para os críticos da época, as chanchadas só têm seu valor reconhecido durante a década de 70, quando uma nova geração de especialistas observa nesse tipo de comédia qualidades até então despercebidas, principalmente, o conteúdo crítico existente em seus enredos.Em nenhum outro momento de sua história, o cinema brasileiro tem tanta aceitação popular. Carnaval, homem urbano, burocracia, demagogia populista, temas sempre presentes nas chanchadas, abordados com vivacidade e o insuperável humor carioca.Os filmes da Atlântida e particularmente as chanchadas formam o retrato de um país em transição, abdicando dos valores de uma sociedade pré-industrial e ingressando na vertiginosa ciranda da sociedade de consumo, cujo modelo teria num novo meio (a TV) o seu grande sustentáculo.