Abrindo espaço para o Brasil no cenário da Indústria Cinematográfica Mundial, os Severiano Ribeiro eram tratados de igual para igual pelos grandes nomes dos estúdios mundiais.

É preciso contextualizar a trajetória da vida de Luiz Severiano Ribeiro Jr. para entender a dimensão de sua contribuição para a Indústria Cinematográfica Nacional.

Nascido no Ceará, no início do século passado, tinha apenas 4 anos de idade quando seu pai entrou para o negócio de exibição cinematográfica em 1916.

Formou-se na Inglaterra, na então cadeira de Bussiness em meados da década de 30 e viajou por dois anos pela Europa, tendo como destino final um curso de língua alemã em Berlim. Presenciou horrorizado o início do Nazismo e chegou a ser detido pela SS por fotografar e enviar para o Brasil as restrições a Judeus em lojas, cafés e restaurantes.

Voltou ao Brasil antecipadamente, trazendo consigo a transformação causada pelo choque cultural europeu e pelo aprendizado nos bancos acadêmicos de Londres.

A busca pelo novo e pela transformação, traços já presentes  em sua vida pelo exemplo empreendedor do pai, foram cristalizados como centro de sua personalidade.

Estava formado o cerne do homem, o norte de uma vida. Entrou imediatamente para as empresas da família e passados alguns anos  o desejo de produzir filmes não encontrou apoio no pai, já então o grande "Imperador" da exibição no Brasil, que considerou o negócio de produção "muito arriscado".

Com dinheiro emprestado, comprou sem alarde, como era seu estilo, as principais distribuidoras de filmes do Brasil, criando a UCB - União Cinematográfica Brasileira, entrou como sócio da Atlântida Cinematográfica, posteriormente assume seu controle acionário e monta um Laboratório de revelação de películas cinematográficas, a Cinegráfica São Luiz.

Estava formada a primeira e única cadeia de produção na cinematografia nacional, que  organizou o cinema como indústria e deteve todas as fases de produção.

Produzia-se na Atlântida, revelava na Cinegráfica São Luiz, distribuía pela UCB e exibia no circuito do pai, o maior do Brasil. Esta experiência única na história do Brasil demonstra com nitidez o tino comercial, a visão empresarial e o senso de oportunidade deste excepcional brasileiro, que com competência e determinação ofereceu relevante contribuição para a cultura nacional.

O sucesso dos filmes da Atlântida, ainda hoje não superados em termos de bilheteria, falam também da sensibilidade do produtor em apoiar uma linguagem com identidade própria e próxima do gosto popular em todas suas produções.

Os atores da Atlântida eram mais do que celebridades, eram famosos. Seus profissionais foram base artística e técnica de inúmeros veículos de comunicação que surgiram depois. A Atlântida é uma escola, ainda hoje respeitada e reverenciada.

A "Hollywood brasileira" ferozmente atacada pelos críticos de então por suas paródias, pelo formato e conteúdo de seus filmes, encheu de alegria milhões de Brasileiros que despretensiosamente ridicularizavam as críticas, lotando os cinemas e fazendo filas de "virar  quarteirão" durante meses após os lançamentos.

O lado esquecido, mas não menos importante, da Atlântida é o do seus Cine Jornais que cobriram por cinco décadas o cotidiano Brasileiro e hoje constitui o mais rico, plural e maior acervo de imagens do Brasil. A orientação de Ribeiro Jr era clara: seus cinegrafistas deveriam estar onde a notícia estivesse.

Um episódio  ilustra uma importante faceta da personalidade de Ribeiro Jr; logo após a renúncia de Jânio Quadros à Presidência da República a tentativa de impedir a posse de João Goulart foi objeto de veemente repúdia dos Cine Jornais da Atlântida que defenderam de forma firme a legalidade.

Após a posse, Jango o chamou e disse: "Você me apoiou de forma firme e eu quero lhe oferecer um ministério", no que foi retrucado: "apoiei porque era o certo e não preciso ser premiado por ter agido de acordo com minhas convicções".

Um homem de fortes convicções, convicções estas, que falaram alto quando decidiu encerrar as atividades da Atlântida e ingressar definitiva e exclusivamente nos negócios do pai.

A relação de admiração e amizade pelo pai e o amor por suas irmãs e família, aliados a uma fé inabalável, são considerações obrigatórias para quem deseja entender a vida de Luiz Severiano Ribeiro Jr.

Seu  exemplo e de sua família para indústria cinematográfica nacional permanece renovado no ano em que o Grupo Severiano Ribeiro completa 90 anos ininterruptos de atividades e a Atlântida completa 65 anos de fundação oferecendo ao público um projeto cultural de amplo alcance.

Mais de uma década após seu desaparecimento, Luiz Severiano Ribeiro Jr. ainda enche de orgulho aqueles que ostentam tão honroso sobrenome.